Maternidade no mercado de trabalho, nós precisamos fale sobre isso

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Hoje acordei 5h da manhã com meu filho de 1,3 anos com febre. Exausta, dormindo mal a noite toda, grávida ainda do segundo filho, sétimo mês de gestação. Troquei a fralda, mediquei o pequeno, fiz o suco e o café da manhã dele, dei de comer, troquei a roupa, esperei minha mãe chegar para me ajudar nos cuidados com ele. Minha mãe chega, meu bebê se acalma, o outro bebê na barriga chuta, vira, mexe, remexe, me dá enjôo, passo mal. Começo o trabalho, três reuniões sequenciais, um treinamento para dar, muito trabalho a fazer. O bebê chora, eu paro para dar o almoço dele, que está doente e carente. Ele vomita nas anotações que eu tinha feito na primeira reunião do dia. Conto isso aos meus colegas por telefone e todos riem muito, porque vida de mãe real é assim mesmo. Medico o pequeno de novo porque continua com febre, coloco para dormir, já que ele não quer que a vovó o coloque. Volto ao trabalho de novo até o fim do dia. Ligo para a pediatra depois da minha última reunião às 18h para informar o estado do meu filho, ela muda a medicação e pede para que eu o leve até o pronto socorro se a febre aumentar. Tento dar o jantar, o bebê não quer comer, só quer colo e a mamãe. Ele está cabisbaixo e coloco uma música para ele dançar comigo, no meu colo. Se anima um pouco, dá aquela risada gostosa que só as criançada sabem dar. Carrego um filho no colo e outro na barriga. Mal comi alguma coisa durante o dia, mas tomei uma ducha rápida quando o marido chegou em casa. Tenho sono e cansaço extremo. Já tive trombose antes da primeira gravidez, então as pernas incham e doem mais do que o normal de uma grávida. O bebê continua com febre, medico, dou banho e ele dorme. Volto a trabalhar para terminar uma apresentação até enfim poder dormir. São 23h30.

Quando eu penso que essa é a minha rotina diária, com algumas variações, vejo o quanto o mercado de trabalho é cruel com as mulheres e mães. Alguém conhece um homem que passe pelo mesmo sufoco diário de trabalhar e cuidar dos filhos? São raras as exceções. Só uma mãe sabe o que a outra passa.

Eu ainda tenho uma vida profissional bastante privilegiada, mesmo com todos os desafios diários da maternidade. Eu trabalho em uma multinacional que permite que eu faça hoje office, que eu consiga organizar melhor o meu trabalho, balancear a minha vida de mãe e profissional, sem deixar de lado os dois papéis, tão importantes para mim, e ser mais flexível no dia a dia, atendendo às diversas demandas femininas. Eu consigo me organizar para levar meu filho ao medico e para ficar em casa quando preciso cuidar dele e isso, sem dúvida, permite que eu trabalhe mais confiante e feliz. Além dessa flexibilidade que não tem preço, minha licença maternidade teve duração de 7 meses, incluindo a obrigatoriedade do Governo de 4 meses, mais uma licença estendida dada pela IBM e as férias. Sou exceção. A maioria das empresas no Brasil não têm esse cuidado com a mulher e o bebê. Sem dúvida falta ainda muita flexibilidade e empatia para com a vida materna no mercado de trabalho.

Muitas empresas e gestores preferem contratar homens, mesmo que a mulher seja uma profissional incrível, apenas para não ter que lidar com gravidez, licença maternidade e filhos doentes. Mulheres são descartadas todos os dias em entrevistas de emprego por serem mães. Ainda recebemos perguntas como “Quando você pretende engravidar?” como forma de ameaça discreta dos gestores à mulher que quer ser mãe ou “Com quem você deixa seus filhos?”, na entrevista de emprego. Como se nossas vidas pessoais, nossas decisões de trazer um ser humano não mundo tivesse que passar pelo cruel crivo da sociedade e dos empresários, nos dizendo sempre a que horas e como cuidar da nossa própria vida.

Mulheres têm seus salários mais baixos que os homens para as mesmas funções. Não é mimimi, é realidade. Uma triste realidade para com as mulheres.

Quantas mulheres, profissionais incríveis, eu conheci que largaram empregos valiosos para cuidar dos filhos porque não tiveram em suas empresas a mesma parceria que a IBM tem comigo. E sabe quem perde? Justamente essas empresas que ainda nos dias de hoje tem uma mentalidade arcaica e machista, justificado erroneamente por debaixo dos panos que mulheres e mães não tem o mesmo rendimento e comprometimento profissional do que um homem. Que pena para essas empresas que perdem uma força de trabalho incrível, competente e diversa de tantas mulheres que são descartadas após a maternidade ou mesmo durante a gravidez. Porque se você quer mesmo saber a verdade, eu rendo muito mais profissionalmente sendo mãe porque trabalho em um ambiente flexível, que me permite ser feliz. Eu posso estar em casa com meus filhos ou atender às demandas deles quando necessário, mas por ter toda essa flexibilidade sou ainda mais comprometida e responsável com o meu trabalho, justamente para não perder essas condições tão importantes para mim e para a minha família. Faço mais coisas com qualidade e cumpro prazos mais rapidamente porque sei que tenho uma recompensa valiosa me esperando: minha família.

Infelizmente o que eu possuo como flexibilidade e empatia em relação aos meus múltiplos papéis como mulher, mãe e profissional, por parte da empresa na qual eu trabalho, é exceção.

Uma pesquisa feita no ano passado nos Estados Unidos revelou que trabalhadores mais felizes produzem cerca de 12% a mais. Já os infelizes, estes saem caro: os gastos com demissões de funcionários que não se sentem satisfeitos são de US$ 350 bilhões – quase R$ 900 bilhões – por ano. Que prova as empresas precisam ainda se darem conta de que amparar a maternidade é o melhor caminho para ambos os lados, o da mulher e o da empresa?

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