Ninguém viu, ninguém vê…

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Ninguém vê que mãe recém-nascida precisa de colo. Depois de parir sua cria por horas a fio ou sofrer os incômodos no pós parto de uma cesárea, ninguém vê que a mãe precisa de cuidados, de abraços, de empatia.

Ninguém vê que mãe também tem fome, sede, frio e sono, muito, muito, muito sono a ponto da cabeça estourar, do corpo inteiro doer, dela achar que não vai suportar a pressão de cuidar dos filhos e de si mesma.

Ninguém vê que mãe precisa de banho, ir ao banheiro, tirar o pijama cheirando a leite para não levar sua auto estima (ou muitas vezes o que sobrou dela) pelo ralo.

Ninguém vê que mãe precisa arejar, precisa de ar, precisa respirar antes que sufoque.

Ninguém vê que os dias longos das mães se misturam com as noites, em ciclos infinitos que as fazem perder a noção de tempo. Ninguém vê a solidão das noites maternas que avassalam o coração e dilaceram a alma. Ninguém vê a escuridão.

Ninguém vê que mãe precisa conversar para manter um pouco a sua sanidade mental, principalmente ouvir outras vozes adultas, falando de qualquer outro assunto que não sejam os filhos. Ninguém vê que mãe precisa manter aberta uma janela para o mundo, lembrar que existe vida além da maternidade e não apenas se afundar na escuridão do puerpério.

Ninguém vê que mãe precisa ser ouvida, passar periodicamente por aquela sessão de descarrego verbal, que custa aos outros ouvir, mas que alivia, um pouco que seja, a alma de uma mãe cansada.

Ninguém que vê que mãe não precisa de palpites e muito menos de julgamentos. Mãe precisa de empatia, de um abraço apertado quando seu mundo exterior, mas, principalmente, o interior, está a desabar.

Ninguém vê que mãe não precisa de vozes cheias de certezas em seus palpites apontando seus dedos afiados em sugestões e críticas de como fazer isso ou aquilo, de como ser isso ou aquilo. Ninguém vê que mãe não precisa de intromissão. Mãe precisa ter voz, a própria voz, sem interferência, apenas compaixão e respeito para que ela seja livre em suas escolhas maternas.

Ninguém vê que mãe às vezes precisa chorar. Chorar até cair todas as lágrimas, até o último dos soluços, chorar não aquele choro baixinho que as mães choram escondido no banheiro tantas e tantas vezes durante a maternidade por medo ou cansaço, mas chorar alto e forte com todas as forças que ainda lhe restam ou buscando as forças que já há tempos lhe faltam.

Todos vêem os bebês, mas ninguém vê, verdadeiramente, a mãe.

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